A diferença entre psicoterapia e psicanálise talvez não seja algo relevante para o leigo. Mesmo porque a Psicanálise é uma modalidade específica dentro de um leque enorme e genérico daquilo que é considerado Psicoterapia.
Para citar algumas temos: a Gestalt-terapia, o psicodrama, a terapia cognitivo-comportamental (TCC), a psicoterapia existencial, a fenomenológica… e por aí vai se desdobrando em um universo confuso e complexo até atingir as terapias que envolvem a espiritualidade e a fé em teorias religiosas.
No entanto, se olharmos de pertinho, bem pertinho, vamos encontrar diferenças muito nítidas entre as terapias e a psicanálise.
A primeira que gostaria de sublinhar é que, na psicanálise, não se visa a correção do comportamento e nem a compreensão do mesmo.
Em psicanálise se estudam os modos que cada indivíduo usa para pensar seus pensamentos. E estuda quais e com que mecanismos cada um de nós se defende da realidade a ser conhecida.
O estudo que a psicanálise propõe está longe da explicação do que aconteceu conosco.
Como um amigo sempre dizia: “Explicação é bom para quem explica!” E não é isto que buscamos em psicanálise.
Em psicanálise estamos atrás das transformações, das novas versões para modelos antigos, do aprimoramento das capacidades para pensar, sonhar, conhecer e simbolizar.
Em uma frase Sartre definiu o âmago do pensamento psicanalítico moderno: “Não importa o que tenham feito comigo, o que importa é o que eu faço com aquilo que fizeram comigo. ”
E, pensem comigo, como liberdade só é possível com o máximo de responsabilidade, psicanálise é um exercício de maturação, uma máquina que acelera o tempo. Olhada assim já não me parece tão pouco o que o tratamento psicanalítico pode te oferecer.
Uma oferta simples. A Psicanálise te oferece nada menos que a liberdade. É isso o que a psicanálise oferece e vende. No entanto, e para isto, cada sujeito que se psicanalisa deverá pagar um preço, e deverá abraçar a tarefa de aceitar o peso de responder pelos seus próprios atos, e, aceitar a lidar com esse peso. O encontro psicanalítico representa de modo diminuto em um instante tudo o que cada sujeito fez consigo mesmo até o momento presente da sessão e o que esse mesmo sujeito está fazendo com seu analista ali naquele instante. O que resta é tomar consciência e curar-se ali mesmo.
Porém, porém, porém… Deixo bem claro, se em algum momento o leitor pensar em ter comigo um encontro para fazer seu tratamento psicanalítico, e se esse leitor fantasiar que comigo encontrará as explicações e os porquês de seus problemas, por favor, não venha. Procure os ‘explicólogos’ ou procure as bruxas ou os advogados, para averiguar sobre o seu direito a devolução da mercadoria.
Outra coisa. Ninguém precisa de terapia. Mas todo órgão precisa de treino. Sem uso o órgão morre ou atrofia. Psicanálise é apenas o treino do órgão psíquico: o psiquismo ou a mente.
Treino disciplinado, constante e de longa duração.
Exige muito de cada pessoa e cobra dedicação contínua, e o estabelecimento de uma relação de confiança com aquele com quem o paciente fará sua longa jornada até si mesmo, o psicanalista.
Dr. Emir Tomazelli