Psicólogo e Psicanalista, mestre e doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP). Há 44 anos atua na área clínica em Consultório no Brooklin, Sp. Autor de livros de psicanálise e referência acadêmica
Tristeza é um afeto sofisticado e de altíssima utilidade nos processos de simbolização, sonho, memória, e, é necessário dizer, participa ativamente na descoberta do universo ao redor e na construção dos sistemas que garantem ativa nossa curiosidade e o desejo pelo novo, ou, mais precisamente, pelo conhecimento. Mais que tudo, é com o luto que fundamos o mundo das coisas sabidas. E isto ocorre porque a tristeza é o único afeto que permite a esperança e o desejo (e as concepções de espaço e tempo), e com estes, a passagem angustiante do tempo se transforma em esperança e promessa. Mesmo porque, para conhecermos o mundo, no sentido cognitivo do termo, é necessária uma dose de tristeza e de temporalidade expectante, sem a qual, nunca se poderia fazer um sujeito do conhecimento.
A melancolia é outra história. Melancolia é uma prisão temporal. O sujeito está pregado no tempo sem movimento. E melancolia é tristeza inflamada, é ódio no lugar do pesar. É irritação profunda com tudo que exige que o sujeito se entregue. Todo melancólico clama por justiça porque se vê como alguém que não recebeu todo o valor que merecia. Uma pena. Deixa de viver porque espera do mundo que ele seja melhor do que aquilo que ele verdadeiramente é.
Na melancolia há uma pretensão de culpa por todo o mal do mundo. Mas não há nenhum sinal de que o sujeito em questão saiba do que é ter responsabilidade pelo objeto e pelo mundo ao redor.
Culpa sem responsabilidade é imaturidade. E toda melancolia é imaturidade na forma de uma doença do tempo. Uma prisão, um encerramento que não evolui.
Como no ansioso e diferente dele, o melancólico diz:
“Eu já estou morto, mas o meu problema é que mesmo já sendo morto, não sou ainda morto, logo, sou vivo, mas sou morto. Sou morto sem ao menos a possibilidade de morrer.” (Massimo Recalcati Lavoro del lutto, malenconia e creazione artística [poiesis editorice] publicado em 2009)
Também aqui o tratamento está vinculado à capacidade do paciente se desenvolver e ser capaz de sentir e transformar sua dor melancólica em sofrimento normal.